quarta-feira, 22 de julho de 2015

Super-Realidade

O dia deitava-se sob a ponte
que te  nasceu das mãos
e a tua boca desenhava os pássaros
que vinham fazer ninho
no espaço mais quente
por entre as minhas costelas.

Éramos jovens
criávamos o mundo com a idade que mais nos convinha.
Éramos mais: rei e rainha,
sem segredos ou futuros;
carne e luz,
bombas atómicas,
vértice dos tumultos da Humanidade,
vertigem
brilho
dois rumores à deriva no crepúsculo
e na poesia rachada dos candeeiros de rua.

Eu estendia-te os braços,
alicerces dançantes
que subias
para sentires o cheiro das nuvens;
tu cravavas-me os dentes nos ombros,
queimavas-me o rastilho da língua
e comias todas as minhas palavras
num gemido.

Do fundo do teu sorriso, a voz,
prenhe de uma super-realidade,
enquanto o mundo era tudo o que acontecia
por dentro dos vidros,
guardados fora do silêncio.



"And we kissed, as though nothing could fall"





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