domingo, 23 de outubro de 2016

13

Aguardar a chegada das chuvas.
Multiplicar por treze as pedras na garganta;
mordê-las,
à força da febre
com dentes de aço
e cigarros apagados nos pulsos.

Falta-te a língua das dores que dançavam
de pés descalços no escuro das igrejas,
das molduras partidas em rios que separam mundos
e não sabes do risco de andar de olhos abertos à chuva,
da ferrugem que entra órbitas adentro
nem da escuridão capaz de acender certos lugares.

E tudo isto,
esta memória de tudo, sujeita à morte
ao declínio do olhar
acontece no tempo que levas a entrar na porta.

Voz off:
            (no silêncio do corredor
             alguma distorção mostra
             que o filme ainda segue).

Paulo Nozolino - Bone Lonely

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Das visões

Os olhos pendiam como lágrimas
e a luz que entrava chegava para definir o rosto do silêncio.
Alguém muito escuro, cheio de dentes feridos
e pregos ao peito
deitava-se
e sabia:
na sombra dos frutos maduros
a saliva transforma-se em cinza,
tudo enlouquece
e as facas aprendem a solene arte de aparar a tristeza dos pulsos.