Reconhecer alguém pelos nós dos dedos. Pelas linhas que desenham os abismos diários. Fracturas expostas, mesmo dos dias em que não se vive. Como as Terças -feiras. (ninguém vive às Terças-feiras).
É reconhecer alguém pelas unhas sujas e o verniz estalado. Os dedos dobrados sobre as tristezas que sufocamos.
Ou talvez não.
Talvez nada disto seja Amor, e uma mão seja, apenas, uma mão e os sonhos morram mesmo antes de começarem e nenhuma estrada na tua epiderme tenha sido aberta ao ritmo das tuas feridas.
Ainda assim.
Ainda que as linhas das tuas mãos não sejam um cemitério de ilusões, amar é isto: reconhecer-te pelo nós dos dedos.
Pelo princípio de algo terrível.
Catastroficamente belo.
Fatima Abreu Ferreira, Março, 2016 |