terça-feira, 8 de março de 2016

Sobre o Amor, crenças e outros abismos

Quantos abismos terei mais que gritar?
Quantas fissuras esgravataremos com as unhas cheias da àgua que precisamos para sobreviver?
Parece-me um desperdício toda esta àgua.
Nas unhas.
Na boca.
Nos olhos.
Sabes que hoje chorei um rio? Quando me apercebi, não tinha pé e os meus braços não sabiam nadar porque lhes faltavam as pernas (e toda a gente sabe que os braços não vão a lado nenhum sem pernas). Fiquei assim, uma espécie de metade. Um fragmento. Uma coisa meia que não saber ser. Nem nadar. (sequer respirar).
De repente, sem saber como, percebi que bastava acreditar. Acreditar que as minhas pernas (ou tu) estavam lá. Que eu era agora uma coisa inteira, capaz de sobreviver.
Tão simples, não é?
Acreditar.
Tudo se resume a isto, na verdade. Ter fé que a profunda claridade dos teus olhos azuis cortar-me-à os pulsos com uma luz inabalável. Capaz de rasgar os abismos dentro do abismo em que me tornei.

Rega-me - peço-te.
Carinhosamente.
Todos os dias.
Até me deixares morrer.

Fátima Abreu Ferreira, Março, 2016

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