Deitada acima do tempo,
a boca abria-se-lhe ao abismo interior
do céu.
A água desatava-lhe a pele,
as flores mordiam-lhe o corpo,
e ela cantava o sorriso ardente
na curva molhada da língua.
Com as unhas,
rasgava a melodia pela garganta
como quem desmebra um incêndio pela cabeça.
e dançava o corpo,
leviana à agonia que lhe mordia as pernas.
Do outro lado,
sentado na espuma líquida da margem,
alguem pintava a sua voz vermelha
e o doce abraço das flores aquáticas.
Nos seus pincéis,
qual lua cega e abstracta,
o hálito de Ophelia
perguntava:
-"ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza".
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